segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Mequinha – Ao Maestro, meu Ídolo, com carinho !!!

 mequinha



Por: Décio Pereira

Os garotos quando crianças sonham em ser policial e jogador de futebol. Com os sonhos vão surgindo os heróis que darão luz ao caminho de cada um, tornando a esperança mais latente. Como defensores do universo surgem nossos Pais, Batman, TEX, Zorro, Capitão América, Capitão Nascimento – Como craques alguns Pais, Pelé, Maradona, Zico, Messi, Cristiano Ronaldo, Ronaldo – Quando chegam à adolescência percebem que no Brasil ser policial é barril e que salvar o mundo é uma missão impossível. Fica então o sonho de ser artista da bola, fazer jogadas geniais, encher os estádios de torcedores e os bolsos de dinheiro.
Comigo não foi diferente, li quase todos os livros de TEX, meu herói. Fiquei mais velho e comecei a admirar Zico, que era e é o meu ídolo distante, no futebol. Falo distante porque o mais perto que pude chegar dele foi há uns três metros, numa partida de futebol entre Flamengo e Santos, isso já no final dos anos 80. Antes, só pela TV e raramente, o mais comum era pelo rádio, nas tardes de domingo, ao som de Jorge Kuri e Waldir Amaral, na rádio globo do Rio.
Tive o privilégio de na adolescência ter outro ídolo, de perto, que era de carne e osso, que eu podia ver, tocar e até conversar, ele é o MAESTRO MEQUINHA – Melquisedeque Carvalho – Ele foi meu ídolo no futebol. Aos meus doze anos decidi com uma turma de amigos fazer um time de futebol, mas como conseguir um uniforme? – Com a cara e a coragem, sozinho, adentrei as instalações da antiga EMATER-BA e procurei o meu ídolo. Acontece que Mequinha era uma pessoa normal, um trabalhador, um garoto com seus 20 anos, filho de pessoas que nunca foram milionárias, um simples mortal. Problema dele, eu tinha doze anos e ele era meu ídolo, ídolos tem tudo, podem tudo, são tudo. Não sei se pela sua imensa bondade, já na sua mocidade tão presente ou se pelo espanto de ver um garoto lhe pedindo um uniforme, Mequinha concordou e mandou que eu comprasse que ele pagaria. Fui a Conquista com minha avó e comprei o primeiro uniforme de time que vesti, o uniforme do Bahia foi o mais barato e o que pude ter acesso. Mequinha, meu ídolo, pagou. Não sei se inspirado no ídolo/patrocinador ou se na quantidade de craque que o Bahia dispunha, fomos um sucesso – lembro-me de: Zé de Messias, Jair(Gay), Romilson, Pola, Valdinho, Gimaldo, Donizete, Note, Orlando de Mané Rozendo, Nico, Belquinho…
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Voltando ao ídolo – Mequinha jogava na Seleção de Condeúba nas ensolaradas tardes de domingo, no estádio Agostinho David de Alcântara – jogava, modo de dizer, Mequinha dava show. Conduzia a bola com extrema maestria, sem olhar para ela, de cabeça erguida, no estilo Falcão ou Beckenbauer. A bola o obedecia como se estivesse encantada por ele, como se tivesse prazer em ser dominada por aquele craque, que a tratava com tamanha intimidade e ela, a bola, totalmente hipnotizada, se sentia feliz nos pés daquele gênio    – um lançamento e ele botava o companheiro na cara do gol – um toque e ele servia o centroavante como o mais refinado dos garçons – um chute e a nossa seleção marcava mais um gol – no quesito chute, quem não o conhecia, dificilmente conseguia distinguir se ele era destro ou canhoto, tal era a facilidade com que tocava na bola com ambos os pés – Mequinha não corria, ele flutuava pelos quatro cantos do campo. Sempre jogando no meio campo, de cabeça de erguida, corpo ereto, olhando sempre para um ponto distante da imaginação do adversário, ali ele era o rei e podia ocupar todos os espaços do campo de jogo, ele parecia ser onisciente e onipresente, estava em todos os lugares. Um terror para quem o enfrentava.
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Quando falo que Mequinha jogava, é modo de dizer, ele dava espetáculo, show nessa posição, a única que poderia comportar todo o seu futebol, que dava a ele a visão exata de tudo que acontecia no jogo. Já assisti e vi muitos jogadores de futebol em minha vida, profissionais e amadores, vi poucos como Mequinha, em qualquer uma das categorias, em nada ficava devendo aos maiores craques do mundo, exceto, que também era um craque fora de campo. Algo incomum aos nossos ídolos que vemos na TV. Ele não tinha vícios, garoto do bem, ótimo pai de família, profissional de mão cheia, religioso e ainda jovem já ajudava ao Padre Homero, fazendo um programa no auto falante da igreja. Todos os dias às 18h ele saia correndo do campo e chegava  suado na igreja para apresentar seu programa, sem nem olhar para o relógio ele tascava: “São seis horas, em pino…” – Quantas vezes Mequinha começou seu programa às 18:05, às 18:10, às 17:55.. – Quem não se lembra do: “O sapato velho que você tem em casa, não é seu; a roupa velha que você tem em casa, não é sua. De que é? – É do pobre sofredor.” – Foi também por muito tempo professor de matemática, meu professor, inclusive – compôs o melhor meio campo que vi jogar na Seleção de Condeúba, o meio campo 3M –  Mequinha, Mário Sérgio e Marcos de Dário.
Com o surgimento do Santa Cruz F. C., o time que encantou Condeúba com o uniforme mais belo que já apareceu nas redondezas – todos os méritos para Dr. Cardoso,  – e com o mais refinado toque de bola de um time futebol condeubense – todos os méritos para Dr. Mário Sérgio, que tendo um time de garotos de pouca idade, sem força nos chutes pelo pouco tamanho de cada um, descobriu o toque de bola e o time conseguia entrar no gol com bola e tudo. Pois bem, com a chegada dessa novidade encantadora chamada Santa Cruz, a Seleção Condeubense passou a ter um concorrente, sem peso, mas com um extremo talento para o belo futebol arte e aí a Seleção se tornou um time, passando a se chamar UNIÃO – O maestro Mequinha conduziu o UNIÃO E.C. a invencibilidade de trinta e três partidas, jogando com os principais times da região sudoeste. Houve até uma seleção regional feita pelo Gerente do BANEB, Sr. Guy, onde apareceu em Condeúba a nata da região, os melhores de cada cidade e o UNIÃO bateu aquele majestoso time. Inacreditável.
O UNIÃO ganhava, mas o Santa Cruz encantava e é daí que surgiu uma lenda relacionada ao meu ídolo. Conta história que Mequinha, profundo conhecedor do futebol, foi fisgado pela beleza de futebol que o Santa apresentava e se tornou um dos seus torcedores, claro que por debaixo dos panos, já que o UNIÃO e SANTA não se batia nem em treino, até nas festas da cidade cada grupo se sentava de um lado. Começava que o União era um time de homens e o Santa de moleques ousados e atrevidos. Pois bem, num dos mais disputados jogos entre União e Santa Cruz, que ficou zero a zero até 38 minutos do segundo tempo, numa cobrança de escanteio, a bola sobrou fora da área para Mequinha e ele de meia bicicleta fez um dos mais belos gols do Estádio Agostinho David. Aí veio o lance estranho: Mequinha não comemorou, pelo contrário, saiu chorando. A turma do Santa conta que foi porque ele era torcedor do santa; a turma do União conta que ele não vibrou porque ficou muito emocionado com a importância e beleza do gol. Seja qual for a verdade, foi mais um instante de genialidade do meu ídolo, que passeava pelos campos, enquanto seus companheiros e adversários se matavam atrás da bola, os adversários na vã tentativa de tentar anulá-lo; os companheiros para acompanhar o seu rápido pensamento. Enquanto todos jogavam bola, ele dava aulas de futebol e apresentava um espetáculo repleto de momentos mágicos a cada nova edição: chapéus, dribles da vaca, fitas, chutes espetaculares, com gols que mais pareciam obras de arte;  passes e lançamentos dignos de serem pintados por Picasso. Era o meu ídolo Mequinha se divertindo, simplesmente.
A vida me concedeu o privilégio de ainda que por pouco tempo, atuar pela Seleção ao seu lado. De vez em quando eu me pegava assistindo o jogo de dentro do campo. Eu era ao mesmo tempo jogador e torcedor, foram tempos de muita felicidade e muitas vitórias.
Como se não bastasse poder ter atuado ao seu lado, ainda coube a mim, cuidar da organização de sua despedida da Seleção de Condeúba, missão que Alécio Vitorin Vian me confiou, no jogo Seleção de Condeúba contra os Veteranos dos Santos F.C. de São Paulo. Essa festa foi filmada e uma fita de VHS (vídeo cassete) foi feita, já tentei um milhão de vezes assisti-la, mas ninguém sabe onde anda, qual seu paradeiro,  talvez depois desta matéria alguém resolva devolvê-la e possamos ter acesso àquele momento de impar do futebol condeubense.
Reza as boas praticas de que não se deve erguer monumentos a pessoas ainda vivas, assim, eu espero que para Mequinha nunca seja erguido nenhum e que ele tenha vida eterna. Afinal, os ídolos nunca morrem.
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Em meu nome e de todos aqueles que amam o futebol, quero registrar o meu singelo agradecimento a esse homem-menino-muleque, artista da bola, artista na vida, exemplo de cidadão, que nos proporcionou belas tardes de domingo. Quando Moraes Moreira compôs e gravou a musica para Zico, eu falei que poderíamos plagiá-la e trocar o nome de Zico por Mequinha. Pois quando ele se aposentou, foi muito triste e eu estava lá.
“E agora como é que eu fico
nas tardes de domingo
Sem Zico no Maracanã
Agora como é que eu me vingo
de toda derrota da vida
Se a cada gol do Galinho
Eu me sentia um vencedor”

A Deus, meu muito obrigado por ter me concedido a alegria de ter ídolos, que são verdadeiros faróis que iluminam o meu caminho, dando-me inspiração e modelagem para viver, feliz.
Obrigado Melques – Talento, Humildade – Simplesmente eterno!
Fonte: Ddez.com.br

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